sexta-feira, 6 de julho de 2012

ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

Não sou especialista em AF nem tenho formação na área e ainda estou aprendendo. Mas como muitas pessoas estão pedindo vou compartilhar meus filtros fundamentalistas.

Estou constantemente garimpando oportunidades e acompanhando o desempenho dos ativos em carteira através dos balanços trimestrais. O sistema elaborado pela Claudia Augelli resume bem o processo (desculpem a baixa resolução):





































E nessa busca utilizo basicamente uma mistura dos filtros do Bastter: http://youtu.be/1ihUxi7xLwo , com alguns do Stormer, com outros do Anderson Luerdes.




As boas empresas devem ter:

- lucros consistentes:
Aumento de lucro ao longo dos anos, principalmente nos anos mais recentes. E também com aumento do LPA (lucro por ação*), pois não adianta os lucros serem consistentes se a empresa emite novas ações com frequência, diluindo o patrimônio e os resultados.

* LPA (lucro por ação) crescente: lucro líquido / número de ações da empresa
Vejam o link: Não confunda com proventos distribuídos


- crescimento do patrimônio ao longo dos anos, principalmente nos anos mais recentes.

- dívida e caixa equilibrados:
A dívida bruta é composta por empréstimos, financiamentos e debêntures.
O caixa disponível é composto por: caixa, títulos e valores mobiliários de liquidez imediata.
parqa encontrar a dívida líquida basta subtrair o segundo do primeiro.
Alguns valores relevantes:
      - dívida bruta / PL nunca maior que 1.0 e preferencialmente caindo.
      - dívida líquida / EBITDA nunca maior que 2

* outro informação importante mas de difícil acesso é a qualidade da dívida, qual seu custo com juros. Muitas vezes é algum financiamento bem barato e compensa para a empresa mantê-lo ou tomar mais emprestado, mesmo com um caixa robusto.

- boa governança: vou abrir um post específico sobre os diferentes níveis.

- margem líquida: lucro líquido / receita líquida idealmente maior que 15%

- lucro líquido: receita líquida menos os custos e as despesas das vendas.
Dependendo do estágio de maturação da empresa pode ser usado para reaplicar na empresa, comprar outras empresas, recomprar ações ou pagamento de proventos, seja na forma de DIVIDENDOS ou JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO.
Essa diferença do que fazer com os lucros explica melhor a divisão que faço entre empresas de CRESCIMENTO ou de DIVIDENDOS.
Alguns chamam INVESTIMENTO EM VALOR OU EM CRESCIMENTO  como no link para um post do blog O pequeno investidor.

- Retorno sobre o patrimonio (ROE)Lucro líquido / Patrimônio líquido
ROE >15% idealmente, e no mínimo > que a taxa de juros nominal


Resumindo: quero empresas bem administradas, com boa governança, com boa margem de lucro, principalmente com um bom ROE e consistente. E que não tenha dívida muito alta, pois os gastos com juros podem comprometer os resultados.




Levando em conta as cotações:

Uma vez feita a lista dos ativos de nosso interesse também existem os filtros que vão levar em conta a cotação das empresas em bolsa e vão nos dizer sobre o momento da compra, dando uma indicação fundamentalista de caro ou barato:



- P/VP (preço / valor patrimonial): indica quanto o mercado está disposto a pagar pela empresa. É o mesmo que dividir o valor de mercado pelo patrimonio líquido.

    * P é o a cotação atual por ação, que multiplicado pelo número de ações = valor de mercado da empresa toda.

    * VP (ou VPA em alguns sites) é o valor patrimonial e contábil da empresa, seu patrimônio líquido dividido pelo número total de ações.

     Exemplos com dados de hoje:
 - VALE5 tem um P/VP = 1,35 significa que o mercado está pagando um excedente de 35% do seu VP. Isso pode significar que está caro.
- USIM5 tem um P/VP = 0,36 significa que o mercado está pagando um deságio de 64% do seu VP. Isso pode significar que está barato.



- DY (Dividend Yield): ou taxa de dividendos = dividendos pagos por ação em relação a cotação (P).
idealmente acima do custo de oportunidade da renda fixa.



- P/L (preço da ação / LPA): idealmente abaixo de 10
A grosso modo é como se a empresa fosse demorar o mesmo valor do P/L para pagar seu investimento na cotação atual. Exemplo: P/L = 10 seriam 10 anos de pay-back, mas isso é bem a grosso modo pois não tem a ver com lucro distribuído.
Já houve um post sobre este indicador onde tem alguns links bem interessantes para outro blog:
BLOG Alem da poupanca - relacão PREÇO / LUCRO e
BLOG Alem da poupanca - estrategias envolvendo P/L


- P/L x P/VP: o resultado idealmente deve estar abaixo de 15, e NUNCA negativo.
Esses dois indicadores sozinhos nos dão uma boa idéia do valor atual mas podem conter algumas armadilhas, e ao fazermos a multiplicação de um pelo outro conseguimos filtrar algumas delas. Existe capítulos inteiros sobre isso no livro do Damodaran da lista de favoritos do blog.

     Exemplos com dados de hoje:
VALE5 com P/VP = 1,35 poderia nos desanimar quanto a uma compra, mas como ela continua com ótimos lucros (P/L = 6,19) ao fazermos a multiplicação P/L x P/VP encontramos o valor de 8,35 = noção de barato.

CLAN4 com P/VP = 0,60 poderia nos animar quanto a uma compra, mas como ela não dá lucros ultimamente (P/L = 110) ao fazermos a multiplicação P/L x P/VP encontramos o valor de 66 = noção de caro (caríssimo).

MILK11 com P/VP = 0,06 parece uma bagatela valendo no mercado 6% do VP. Mas ela não dá lucros, só prejuízos (PL = -0,05) e fazendo a multiplicação temos -0,003 = PROIBIDO INVESTIR, ALERTA DE MICO!


Resumindo: podemos encontrar excelentes empresas analisando seus balanços, mas os múltiplos citados anteriormente (que levam em conta a sua cotação) podem nos dizer que algumas empresas estão muito caras.
Então prefiro aguardar um recuo nas cotações para adicioná-las na carteira.

Exemplo atual: NATURA
- ROE fantástico = 60% em média dos últimos anos
- lucro, patrimônio e caixa equilibrados e crescentes
- nível máximo de governança
- RI atencioso e eficiente
- margem razoável
- Dívida aumentou bastante nos dois últimos anos mas receita acompanhou, a margem ficou estável e o caixa está bem robusto. A relação dívida/PL=2/1 está um pouco alta e acima do meu limite aceitável, mas é contornado pela qualidade da dívida e pela relação dívida/LL = 1,1, demonstrando que um ano de lucro líquido já pagaria a dívida toda.

Foi aprovada com louvor pelos meus filtros (que ROE é esse?!!!)

PORÉM... está muito cara:
- P/VP = 23 (está valendo hoje em bolsa o equivalente a 23X seu valor patrimonial)
- P/L = 27 (a groso modo é como se fosse demorar 27 anos pra recuperar o investimento)
- P/VP x P/L = 621 (!!!) Talvez o mais alto do mercado! Mais de 40x acima do máximo que a regrinha aceita (=15).

Então...
Está muito cara. Aguardo um bom recuo nos preços para poder comprá-la.

Outra situação que pode permitir uma entrada é uma longa congestão dos preços em topo (retângulos para quem gosta de AT), onde as cotações fiquem andando de lado por longo temo, desde que neste mesmo tempo seus fundamentos continuem bons e crescentes. Dessa forma os fundamentos estariam "alcançando" as cotações e os múltiplos ficariam mais "baratos".



Mais detalhes sobre os múltiplos em blog ValorInvest com André Rocha , segue um trecho:

"Como interpretar?
A interpretação do P/L é sempre relativa a outros P/L. A comparação entre P/L permite que você tenha um parâmetro de como os investidores percebem aquela empresa.
Um P/L muito elevado pode representar uma empresa que está sobrevalorizada ou uma empresa com grande potencial de crescimento. O contrário, um P/L muito baixo, pode representar uma empresa subvalorizada ou uma empresa com pouca expectativa de crescimento.
Para saber se um P/L está elevado ou baixo é preciso comparar o P/L com outras empresas semelhantes, com o P/L médio das empresas do mesmo setor, com o P/L de outros mercados e explorar os fundamentos e perspectivas da empresa.

Precauções…
Cabe ressaltar que essa simplicidade traz elementos ao qual devemos atentar. A escolha do LPA e do preço da ação pode variar entre análises. Um analista pode usar preço médio, outro pode usar preço médio da semana, um terceiro pode usar lucro dos últimos 12 meses, outro pode usar projeções futuras de lucro. Por isso, sempre atente ao que foi considerado no cálculo do P/L. Veja mais sobre como se precaver no post sobre armadilhas da avaliação por múltiplo."




Uma vez feita nossa lista de "Bons ativos" pela AF devemos determinar a quantidade de cada uma delas na carteira através da ANÁLISE QUANTITATIVA, tema de outro post.

Fontes de dados:
As informações sobre as empresas listadas na bolsa devem ser públicas e divulgadas periodicamente nos jornais de grande circulação e também no site da BMF-Bovespa - Empresas Listadas. E podem ser vistas já agrupadas e tabuladas, com os dados anualizados ou não, gratuitamente nos sites Fundamentus, GuiaInvest., Bastter.com, inclusive com os gráficos dos indicadores.


Exemplo do Fundamentus: observem que basta deixar o mouse sobre algum indicador que aparece uma colinha explicando melhor o que são os indicadores.


SDS



Um comentário:

  1. Excelente post Rocky!
    Um dos melhores posts que já vi sobre o assunto. Muito bem resumido.

    Tenho buscado me basear nestas diretrizes nos meus investimentos. Espero num futuro não muito distante poder colher os frutos deste trabalho e compartilhar para que mais pessoas possam ver que investir em renda variável não é simples porém é o melhor investimento que podemos fazer para nosso futuro.

    Abraços.

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