HEDGE DA CARTEIRA

Primeiramente, o que é hedge?

Há uma boa descrição no Wikipédia:


Em finanças, chama-se cobertura (hedge, em inglês) ao instrumento que visa proteger operações financeiras contra o risco de grandes variações de preço de determinado ativo.

Uma estratégia de hedging consiste em realizar um determinado investimento com o objetivo específico de reduzir ou eliminar o risco de outro investimento ou transação.
Funcionamento: Um exemplo é o caso de uma empresa que tem de pagar uma fatura em moeda estrangeira no prazo de 60 dias. Se comprar hoje, no mercado de futuros, um montante dessa moeda equivalente ao valor da fatura, consegue isolar-se do risco de ocorrerem alterações da taxa de câmbio que tornem a transação mais cara na sua moeda. A estratégia de hedging pode ser concebida de forma a limitar apenas parcialmente o risco cambial ou, através da utilização de opções, dando ao investidor a hipótese de ganhar se a flutuação for a seu favor.

Uma das principais diferenças entre os fundos de hedge e os fundos de mútuos nos Estados Unidos, é que os primeiros não são obrigados a divulgar publicamente o montante disponível em carteira. Portanto, é praticamente impossível saber em que momento constituiriam ameaça aos mercados e em que momento poderiam minimizá-la.

Muitos fundos de hedge trabalham com derivativos complexos, criados sob medida para sua clientela, os quais não são negociados com freqüência e se mantêm distantes das bolsas. Trata-se de um segmento obscuro, não apenas para quem está de fora, já que nem mesmo os fundos sabem muito bem como avaliar os instrumentos à sua disposição.


Como instrumentos de hedge no Brasil temos alguns derivativos oferecidos pela BM&F: os contratos futuros de índice BOVESPA ou mini índice BOVESPA, contratos de dólar futuro e minidólar e contratos agropecuários.
Como este artigo fala sobre defender a carteira de longo prazo, vamos falar em mais detalhes sobre hedge financeiro com índice (apelido dado pelo mercado para contratos futuros do Índice Bovespa) e mini índice (apelido para mini contratos futuros do Índice Bovespa).


Arbitragem
Parte considerável do volume da bolsa está relacionada com operações de arbitragem que necessitam do hedge com o índice. Então existe liquidez para se fazer aos Bilhões.

Os grandes fundos fazem e chamam de Cash&Carry, mas nunca ficam direcionais, compram o IBOV inteiro e vendem o INDICE pra ficar com o spread entre eles. Por isso o nome arbitragem. Um hedge quase perfeito, ficando com o spread (sempre muito próximo à taxa do CDI) mais os dividendos pagos no período.

Outra forma de ganhar com a arbitragem é montar uma carteira com Beta menor que 1 e vender o índice sem ajustar a posição pelo Beta da carteira. O resultado final seria o ganho extra do índice, uma vez que a expectativa é que recue mais que a carteira. E também ficaria com os dividendos pagos no período.

Isso explica a idéia de papéis defensivos nas perspectivas de queda, normalmente são aqueles que pagam mais dividendos como as prestadoras de serviços públicos. As carteiras com participação maior desses ativos sempre tem Beta menor que um.


Direcional no índice
Como o tamanho da carteira de pessoa física é muitas vezes menor que montante dos grandes fundos, acredito que ficando direcional no índice podemos aumentar os ganhos e bater a rentabilidade conseguida com arbitragem, mesmo na carteira de longo prazo.

Então o trader investidor ao perceber pela análise técnica um movimento de recuo nas cotações pode fazer uma venda no índice e abrir um hedge, tentando ganhar na operação short do índice um valor parecido com o que perdeu na queda da carteira. Travando a queda da carteira até perceber um movimento de recuperação nos preços, quando vai encerrar o hedge recomprando sua posição vendida e deixar a carteira fluir normalmente.


Rebalanceamento da carteira
Para complementar a técnica de hedge é necessário fazermos o rebalanceamento da carteira com o financeiro que entrou com a venda do índice. Esse rebalanceamento vai potencializar o crescimento da carteira no longo prazo.

Existem várias maneiras de fazê-lo. Exemplos:

- por período fixo: a cada 3-4 meses.
- por participação relativa: sempre que o valor líquido atingir 20% da carteira.
- pela AT: a cada toque na LTA de longo prazo do IBOV.


Se decidirmos reinvestir os dividendos, deve ser feito da mesma forma.


ENTENDENDO MELHOR O ÍNDICE

Existem vários contratos com vencimentos diferentes, mas no Brasil só há liquidez naquele de prazo mais curto, atualmente com vencimento para 15/02/2012 e com o código INDG12 para o contrato cheio e WING12 para o mini contrato.

Qual contrato operar?
É o tamanho da carteira do investidor vai determinar se vai ser utilizado o índice ou o mini índice.

- No contrato cheio cada ponto custa R$1,00 e só podem ser negociados em múltiplos de cinco contratos. Ou seja: se estiver cotado a 55.000 pontos, o investidor vai negociar R$1,00 x 55.000 x 5 contratos = R$275.000 no mínimo.

- No mini contrato cada ponto custa R$0,20 e podem ser negociados em qualquer múltiplo inteiro. Ou seja: se estiver cotado a 55.000 pontos, o investidor vai negociar R$0,20 x 55.000 x 1 mini contrato = R$11.000 no mínimo. Chegamos então que a partir de um valor de carteira de R$11.000 já poderíamos fazer hedge.

Exemplo: para travar a queda da carteira de R$100mil, se a cotação no momento da venda fosse 55.000 pontos, deveríamos fazer a seguinte conta:

Número mini contratos = R$100mil / (55.000 * R$0,20) = 9,1 mini ≈ 9 mini

· Esse cálculo assume que a carteira varia igual ao IBOVESPA, ou seja, tem Beta = 1. Mais adiante vamos ver como utilizar o Beta nos cálculos.


Margem de garantia:
Mas isso não significa que para proteger uma carteira R$100 mil precisaria também ter R$100 mil à disposição para abrir uma posição vendida no índice. Pois a BM&F faz um cálculo levando em conta risco e volatilidade do mercado e vai exigir como garantia apenas uma parte, aproximadamente um quarto do valor operado. Este valor é a margem de garantia, e está em constante alteração. A margem teórica máxima atualizada pode ser encontrada em: 
BMF/MargemTeoricaMaxima

No dia que postei este artigo a margem de garantia máxima pela BM&F para posições vendidas era: (por contrato):
- INDG12 = R$10.529,37
- WING12 = R$ 2.105,87

Então para o exemplo anterior: para fazer hedge da carteira de R$100mil com 9 mini a bolsa vai pedir em garantia o valor de 9 x R$2.106,26 = R$18.956,34.
Esse é o valor exigido para conseguir defender a carteira toda. Por isso os derivativos são tão perigosos se não soubermos utilizá-los: eles permitem operações alavancadas!

A melhor parte é que a BM&F aceita as próprias ações em garantia*.

Com isso só precisamos ter em conta um valor mínimo que permita sofrer os ajustes diários, caso as cotações caminhem contra nossa expectativa de queda. Por segurança recomendo ficarmos sempre 10% líquidos.

· Há um deságio da cotação nas ações que é calculado de acordo com a volatilidade e liquidez do ativo, algo em torno de 20% para as blue-chips e um pouco mais para as ações menos líquidas. O importante é que mesmo com um deságio maior sempre vamos conseguir travar a própria carteira.
Confira no link: Limites-e-Desagios-para-aceitacao-de-acoes-em-Garantia


Ajustes diários:
Quando estamos vendidos nos derivativos citados estaremos sujeitos a ajustes diários de posição: se estamos vendidos e a cotação do índice cai, entrará dinheiro na conta, e ao contrário também, se a cotação do índice sobe, vai sair dinheiro de nossa conta.


Os valores já foram citados anteriormente: R$1,00 por ponto para o índice e R$0,20 por ponto para o mini índice por contrato.
Se a nossa carteira representasse exatamente o IBOV e se existisse um hedge perfeito nosso exemplo ficaria assim:


- IBOV no período caiu 5% = a carteira hipotética de R$100mil recuou R$5mil
- mini-indice também caiu 5% = se estava vendido em 9 mini, vai entrar na conta como ajuste:
55.000 x 5% = 2750 pts x 9 mini x R$0,20/pt = R$4.950,00

· Só não bateu com os R$5 mil porque o hedge pedia 9,1 mini ao invés de 9. Então quanto maior o capital mais fácil será fazermos esse arredondamento. · Nem sempre a queda do IBOV vai bater com a queda do INDICE, pequenas variações vão ocorrer, mas no médio prazo isso caminha para a igualdade.

Do mesmo modo quando estamos “hedgeados” e o mercado sobe, a carteira vai ficar travada. No mesmo exemplo:


- IBOV no período subiu 5% = carteira hipotética de R$100mil subiu R$5mil
- mini-indice também subiu 5% = se estava vendido em 9 mini, vai sair da conta como ajuste:


55.000 x 5% = 2750 pts x 9 mini x R$0,20/pt = R$4.950,00

Mas como disse antes, o exemplo considera que nossa carteira varia igual ao IBOV.
E isso só seria possível para um investidor de grande porte, pois para comprarmos o IBOV inteiro, todos os 68 ativos na proporção da carteira teórica, custava na data da postagem deste artigo aproximadamente R$3,3 milhões.
E também nem é nosso propósito, pois queremos montar uma carteira de dividendos e/ou crescimento que seja melhor que o IBOV. Então podemos ajustar isso pelo Beta.


Quanto custa?


Pela tabela BM&F seria inviável para o pequeno investidor operar os contratos de índice ou mini-indice. Ela fala em taxa de corretagem de 0,25% para swingtrade e 0,15% para daytrade sobre o valor da negociação. Pela cotação de 55.000 pontos seria algo em torno de R$140 por contrato cheio no SWT.
Mas na prática as corretoras trabalham com descontos sobre esta tabela.
Na maioria delas o desconto padrão é de 93%, assim chegamos aos valores de:


- por contrato cheio: R$9,60 para SWT e R$5,70 para DT.
- por mini contrato: R$2,00 para SWT e R$1,00 para DT.


Dependendo do tamanho da carteira e freqüência de operações é possível negociar descontos maiores.


O COEFICIENTE BETA


Beta do ativo:
O coeficiente Beta vai nos dizer quanto determinado ativo varia em relação ao IBOV:

- β igual a 1: quando IBOV varia 1% o ativo também varia o mesmo 1%, na mesma direção.

- β igual a 0,5: quando IBOV varia 1% o ativo varia apenas 0,5% na mesma direção, ou seja:
   - se IBOV cair 1%, esse ativo só cai 0,5%
   - mas se IBOV subir 1%, esse ativo só sobe 0,5%

- β igual a 1,5: quando IBOV varia 1% o ativo varia 1,5% na mesma direção.
   - se IBOV cair 1%, esse ativo cai 1,5%
   - mas se IBOV subir 1%, esse ativo sobe 1,5%

- β negativo: as proporções são idem acima, mas o ativo vai variar na direção oposta.
   - se IBOV subir o ativo cai e vice-versa, exemplos: dólar, ouro, Selic

 
Existem vários artigos e vídeos na internet mostrando como calcular o β, então não vou entrar em detalhes. Apenas para constar:

Sua fórmula é: Covar (rp,rm)
                              Var(rm)
Onde:
Covar(rp,rm) é a co-variância entre a variação do ativo (Var ativo) e do benchmark (Var IBOV) no mesmo período.
Var(rm) é a variação do benchmark no período (Var IBOV).
* o período recomendado na literatura é de cinco anos.


Beta da carteira
Uma vez conhecido o Beta de cada ativo devemos calcular o Beta da carteira, que é a média ponderada dos betas de cada ativo em relação ao seu peso na carteira.


Exemplo:
- carteira teórica de R$100 mil com ELPL4 (30%), VIVT4 (30%), ITSA4 (25%) e WHRL4 (15%).
- sabendo que: β ELPL4 = 0,52; β VIVT4 = 0,47; β ITSA4 = 1,14; β WHRL4 = 0,46

β carteira = (β ELPL4 x 0,30 + β VIVT4 x 0,30 + β ITSA4 x 0,25 + β WHRL4 x 0,15) = 0,65

Teoricamente nossa carteira varia 0,65 da variação do IBOV. Para utilizarmos esse valor no cálculo do número de contratos conforme exemplo anterior do artigo ficaria assim:


Número mini contratos = [R$100mil / (55.000 * R,2)] x β carteira = 9,1 mini x 0,65 = ≈ 6 mini




No item Arbitragem do início do artigo foi falado sobre fazermos ou não o ajuste pelo Beta. Existem várias maneiras de trabalhar isso em uma carteira de médio ou longo prazo. Detalhes sobre todas elas fogem do objetivo deste artigo e algumas delas fogem da minha compreensão. Cabe a cada trader investidor entender os métodos e fazer seu estudo e sua escolha.


O método mais comumente utilizado pelos fundos é:


- se há perspectiva de baixa para médio e longo prazo no IBOV = montar carteira com papéis defensivos (β < 1) e vender o índice sem ajuste pelo β.


- se há perspectiva de alta para médio e longo prazo no IBOV = montar carteira com papéis de crescimento (β > 1) e ficar neutro no índice.




CONCLUSÕES


Direcional no índice
Sabendo calcular o número de contratos necessários para o HEDGE da carteira e como fazer a venda, precisamos determinar o momento adequado para iniciar a proteção.
Para isso é necessário escolher um método e segui-lo à risca. Pode ser pela análise macroeconômica, AT clássica ou de forma mais objetiva através de setups para o índice. Lembrando: vamos ficar neutros quando o método indicar compra e vendidos quando o método indicar venda.
Cabe a cada trader encontrar um método para o índice que melhor se encaixe em seu perfil. E com o tempo se adquire mais experiência para criar o seu próprio.




Hedge ou trade com carteira inteira?
O meu estudo do HEDGE começou para defender a carteira de longo prazo e continuar fazendo trades em ações ou opções com parte do capital. Mas os resultados mostraram que ficando sempre posicionado na carteira e direcional no índice era possível aumentar os ganhos e bater a rentabilidade do Ibovespa.


Gostei tanto deste sistema que hoje é o único que utilizo para o crescimento da carteira. Separei parte do capital e faço poucos trades utilizando alavancagem leve no índice, com o intuito de remunerar meu trabalho, já que desde início de 2010 a atividade de trader passou a ser minha atividade principal.


A estratégia utiliza em conjunto vários outros métodos que também são vencedores no longo prazo e batem a rentabilidade do dia-a-dia de trades com ações:


- análise fundamentalista ou qualitativa
- montagem da carteira eficiente através da análise quantitativa.
- rebalanceamento da carteira
- especialização em um único ativo: o ÍNDICE, e daí pode surgir um bom setup.


Na realidade ao treidar com o hedge do índice estamos treidando com a carteira inteira, já que estamos sempre posicionados. O que também simplifica bastante a vida do trader. E como essa carteira já tem um viés altista por formação, acrescentando a análise técnica para o momento de iniciar ou encerrar a proteção podemos aproveitar uma parte maior dos movimentos do mercado.


É claro que o lado negativo também ocorre: estamos sempre com a carteira toda exposta quando o mercado vai contra nossa expectativa. Mas na verdade os stops são menores, já que se estamos vendidos no índice (protegidos) e o mercado sobe, nós “estopamos” no 0 x 0 pois a carteira também subiu. Stop com perda financeira ocorre somente quando resolvermos encerrar o hedge e ficarmos com a carteira direcional.


As taxas e corretagens também representam muito pouco dos ganhos, bem ao contrário dos métodos tradicionais de trades. Quem faz um controle detalhado de suas operações sabe que negociando ações no dia-a-dia quando estamos ganhando bastante, as taxas e corretagens representaram 30-40% dos seus ganhos, e quando estamos perdendo, representam 40-50% do prejuízo.


Utilizando setups bem simples para o índice os backtests mostraram que a estratégia é bastante vencedora, principalmente por segurar a carteira nas grandes quedas e rebalancear em seguida. As rentabilidades são superiores às que conseguia treidando ações, com muito mais tranquilidade, pode ser feito até mesmo no prazo semanal.


Está funcionando muito bem pra mim por isso resolvi compartilhar.


É isso! Espero ter sido claro e qualquer erro que percebam ou dúvidas, por favor, me avisem pelo blog.


Rocky


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